quarta-feira, maio 1, 2024

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Uma em cada seis crianças são vítimas de cyberbullying, revela estudo da OMS

Número de casos de bullying escolar permanece estável ​​desde 2018, mas a prática nos ambientes virtuais aumentou

O segundo volume do estudo Health Behavior in School-aged Children (HBSC), em tradução livre, “Comportamento Saudável em Crianças em Idade Escolar”, da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa, revela que 15% dos adolescentes (cerca de 1 em cada 6) sofreram cyberbullying. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (27).

O estudo investiga os padrões de bullying e violência entre crianças e adolescentes em 44 países e regiões. Embora as tendências gerais do bullying escolar tenham permanecido estáveis ​​desde 2018, o cyberbullying aumentou, intensificado pelo crescimento de jovens com acesso às tecnologias. Dos adolescentes consultados, 15% dos que relataram já sofrer com bullying eram meninos e 16% eram meninas.

Em relação às denúncias, cerca de 12% (1 em cada 8) dos adolescentes consultados relatam cyberbullying contra outras pessoas. Os meninos (14%) são mais propensos a denunciar o cyberbullying do que as meninas (9%). Brigas físicas foram vivenciadas por 1 a cada 10 adolescentes, a maior parte deles eram meninos (14%) e 6% eram meninas.

“O mundo digital, ao mesmo tempo que oferece oportunidades incríveis de aprendizagem e conexão, também amplifica desafios como o cyberbullying. Isto exige estratégias abrangentes para proteger o bem-estar mental e emocional dos nossos jovens. É crucial que os governos, as escolas e as famílias colaborem na abordagem dos riscos online, garantindo que os adolescentes tenham ambientes seguros e de apoio onde possam prosperar”, enfatizou a Dra. Joanna Inchley, Coordenadora Internacional do estudo HBSC.

“Este relatório é um alerta para todos nós denunciarmos o bullying e a violência, quando e onde quer que aconteçam”, afirmou o Dr. Hans Henri P. Kluge, Diretor Regional da OMS para a Europa”.

Para Kluge, tomar medidas para proteger as crianças é uma questão de saúde e de direitos humanos. “Mesmo pequenas mudanças nas taxas de bullying e violência podem ter implicações profundas para a saúde e o bem-estar de milhares de pessoas. Da automutilação ao suicídio, vimos como o cyberbullying em todas as suas formas pode devastar a vida de jovens e suas famílias”, alertou.

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Vítima de bullying, adolescente escreve livro e ganha força para superar trauma: ‘Me sinto bem porque ajudei pessoas’

Ariane Emanuele Sztaler, de 14 anos, coletou depoimentos de vítimas, aplicou um questionário para 300 alunos, traçou perfil das vítimas de bullying e fez levantamento de leis que abordam assunto.

Estudante do ensino fundamental na rede estadual, Ariane Emanuele Sztaler, de 14 anos, escreveu um livro para conscientizar outros jovens e adolescentes sobre a prática de bullying.

A inspiração para a estudante, moradora de Jardim Alegre, no norte do Paraná, foi a própria experiência enquanto vítima.

Ariane conta que passou por situações de bullying feitas por uma colega de classe na escola, nas quais era alvo de piadas por ser tímida e por conta da aparência física.

De acordo com ela, a violência a deixava cada vez mais insegura, retraída e a desmotivava a ir à escola.

Porém, a experiência de criar o livro a ajudou a superar o medo e o trauma.

“Eu me sinto melhor, porque, com esse livro, muitas outras pessoas na mesma situação ou pior que eu foram ajudadas. Eu me sinto bem com isso, porque eu ajudei pessoas e consigo me sentir bem melhor do que antes”, afirma Ariane.

Para o material, Ariane e a mãe coletaram depoimentos de vítimas, aplicaram um questionário para cerca de 300 alunos em escolas municipais para coletar informações, traçaram um perfil das vítimas de bullying e as principais formas de ataque dos agressores e fizeram um levantamento de leis que abordam o assunto.

Depois de 6 meses de trabalho e pesquisa, o resultado final foi publicado no livro intitulado “Bullying: caia fora dessa”.

O bullying pode se manifestar de diversas formas, entre elas por meio de “piadas”, agressões físicas e morais, perseguições e exposição vexatória da vítima. Pode acontecer de maneira presencial, ou também por meio da internet, em uma modalidade conhecida como cyberbullying.

Pesquisadores afirmam que a prática apresenta um risco para a saúde mental das crianças a curto prazo, com as consequências mais notáveis ​​sendo ansiedade elevada, depressão e pensamento paranoico.

Porém, os efeitos do bullying, especialmente quando sofrido em fase de formação, podem durar décadas, com mudanças duradouras que podem colocar as vítimas em maior risco de problemas de saúde mental e físicos.

Ariane incentiva que outras vítimas relatem as situações de bullying a professores ou responsáveis.

No Paraná, uma lei de 2012 fortalece o combate ao bullying nas escolas públicas e privadas do estado. A lei estadual é similar à federal, trazendo mudanças quanto às competências das instituições de ensino e a elaboração de um plano de ação com medidas preventivas ao bullying.

Eliane Sztaler, de 49 anos, mãe de Ariane, conta que sugeriu a ideia do livro como forma de facilitar o diálogo com a filha.

“Eu a convidei para a gente colocar no papel, que era uma forma de se abrir, já que ela tinha muita dificuldade de conversar. E eu me propus a fazer uma parceria com ela e a gente criar esse material que fosse dar voz ao que ela sentia e, também, ao mesmo tempo, que a gente pudesse estar incentivando outras pessoas”, relembra.

A mulher é professora e afirma que a experiência profissional a ajudou a identificar que a filha estava enfrentando algum problema. Depois da publicação, a mãe passou a usar o material dentro de sala de aula com os próprios alunos.

“Ela, como uma pessoa que escreveu um livro, se tornou um exemplo para eu estar trabalhando com outras crianças”, conta Eliane.

Para ela, o mais importante é que os responsáveis se atentem aos sinais e também mantenham um diálogo com os filhos, sejam eles vítimas ou praticantes do bullying.

“O diálogo aberto é muito importante. Nada substitui o diálogo. ‘Ah, a escola reclamou que o meu filho está fazendo bullying, eu vou lá hoje e já vou repreender’. Não, conversa, porque, na maioria das vezes, o que está acontecendo é a própria necessidade de chamar a atenção que o praticante sente”, aconselha.

Por Mariah Colombo e Emanuel Pierin, g1 PR e RPC — Curitiba

11/07/2023 10h11 

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