quinta-feira, abril 25, 2024

cyberbullying

Cyberbullying na escola é caso de polícia e oportunidade pedagógica

Com a nova legislação, casos recentes de uso de IA para gerar pornografia com adolescentes podem a levar a medidas socioeducativas com restrição de liberdade

Cyberbullying na escola é caso de polícia e oportunidade pedagógica

Com o avanço das tecnologias de Inteligência Artificial (IA) instituições de ensino em todo o planeta buscam formas de lidar com os benefícios e ameaças da novidade da moda.

Se algumas já começam a usar a IA – mais especificamente o ChatGPT – em sala de aula e têm obtido lições valiosas para o melhor uso pedagógico da ferramenta, outras em situações como a recente disseminação de imagens forjadas para simular a nudez de pelo menos 16 alunas de um tradicional colégio de Porto Alegre, criam um clima de apreensão.

Assim como na capital gaúcha, casos expressivos já ocorreram no Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte são a versão digital do já conhecido bullying e classificado como cyberbullying. Ambos, desde 15 de janeiro deste ano, passaram a ser crimes na legislação brasileira. Trata-se da lei 14.811/2024 sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apresenta importantes alterações no âmbito criminal como a inclusão dos delitos de bullying e cyberbullying no Código Penal. (leia no final da matéria)

 

Escola e família contra o cyberbullying

Para a psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga Luciana Garcia, além do bullying e o cyberbullying serem encarados como crime, “existe um papel muito importante, tanto da escola como da família”.

No mesmo sentido, Oswaldo Dalpiaz, presidente do Sindicado do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), ao falar sobre o ocorrido na última semana em Porto Alegre, é categórico: “O que nós vimos aí foi um fato demasiadamente desumano”, sentencia.

A presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), Sofia Cavedon (PT) vê o acontecimento por dois vetores, prevenção e criminal, e anuncia que no início de abril o colegiado deverá iniciar uma reflexão para fomentar políticas públicas que tratem o problema.

 

Educação sem limites

Pesquisadora do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Luciana entende que é fundamental que tanto a família quanto o ambiente escolar forneçam “uma educação e uma formação emocional e social para que as nossas crianças e adolescentes, desde lá da educação infantil, sejam formadas baseadas na autoconfiança, na promoção da autoestima, na empatia, na cooperação com os demais”, declara.

Para Dalpiaz, são os atos humanizadores que contribuirão para pelo menos mitigar o mau uso da tecnologia em casos como o da escola de Porto Alegre e de outros que têm proliferado em instituições de ensino mundo afora.

“Essas crianças, esses adolescentes (responsáveis pelas deepfakes pornográficas), têm acompanhamento educativo por parte dos pais? Se não tem, eles se sentem livres para fazer o que bem entendem. E a imaginação de um jovem, um adolescente dessa idade é ilimitada. Faz isso por maldade? Eu acho que não. Faz isso por curiosidade, por inovação, para se mostrar, para ser melhor, para apresentar-se melhor de todos. Mas termina nisso. Infelizmente, quem preparou tudo isso, cometeu um ato infracional muito sério. Porque mexeu com a integridade e com a saúde dessas meninas”, explica Dalpiaz.

 

Desligar o piloto automático

Já para a deputada Sofia, se o primeiro caminho a ser buscado é o da prevenção pela educação, com diretrizes respaldadas na legislação, o que chama de vetor criminal não pode ser desconsiderado.

É por isso que a parlamentar informa que, para a reunião que a Comissão de Educação está formatando, os órgãos de segurança do estado (Polícia Civil e Brigada Militar) serão chamadas para participar.

“Tem aí outra dimensão que é as escolas, as direções, os professores, saberem como agir, o que devem fazer, para quem pedir ajuda, denunciar. Afinal, como no caso recente de Porto Alegre que está em investigação, a gente está tratando com menores de idade, com criança, adolescente, que têm seus direitos”, informa Sofia.

Ela entende que “a meninada precisa saber que isso é crime, que tem previsão legal, que tem imputação de responsabilidade, que tem redes que os manipulam, redes que os insuflam”, pontua.

Na questão da prevenção, em paralelo, a necessidade do que a deputada denomina de “desligar o piloto automático dessa meninada”, com mais orientação.

“Eles fazem no oba-oba, no vamo-vamo, na mobilização de grupos. A gente tem que desligar esse piloto automático e fazer eles refletirem, saberem que estão incorrendo em crime, no caso de menores são atos infracionais. Eles e as famílias”, assevera.

 

O bullying e o cyberbullying como crimes

 A lei 14.811/2024 traz mudanças no âmbito criminal como a inclusão dos delitos de bullying e cyberbullying no Código Penal.

Em uma realidade que coloca o Brasil como o segundo país que registra o maior número de casos de bullying e cyberbullying , atrás apenas da Índia, conforme pesquisa do Instituto Ipsos, a nova legislação reforça a proteção a crianças e adolescentes.

Nos casos em que as condutas não constituam um delito mais grave, no mínimo uma multa é prevista.

Se o crime for cometido por meios virtuais, o cyberbullying, além de multa, o criminoso pode pegar de dois até quatro anos de prisão.

A nova regra também prevê agravantes se o bullying for cometido em grupo, se houver uso de armas ou se houver outros crimes violentos.

Os crimes que estão no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) passam a ser considerados hediondos, sem direito a fiança ou perdão da pena.

Estão também na mesma categoria o auxílio ou incentivo ao suicídio ou automutilação, usando a internet, tráfico de crianças e adolescentes e sequestro de pessoas menores de 18 anos.

Com a nova lei, sobe para até oito anos de prisão a pena para quem exibe ou facilita a exibição de pornografia infantil, como o que ocorreu na escola particular de Porto Alegre onde alunos usaram IA para montar vídeos falsos de colegas nuas.

No entanto, por se tratar de menores de idade que cometeram o ilícito, a situação que ainda está sob investigação é considerada ato infracional equiparado a crime.

Assim, adolescentes respondem por meio de medidas socioeducativas nas varas da Infância e Juventude. Já no caso de crianças, os responsáveis legais são processados.

No entanto, a punição pode endurecer quando tudo acontece no ambiente virtual, o cyberbullying.

Caso a intimidação ocorra por meio da Internet, nas redes sociais, aplicativos ou jogos, a pena segundo o advogado e diretor do Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.rec), André Lucas Fernandes, ela é “espelhada” no caso de adolescentes infratores.

 “Não necessariamente a penalização vai ser a mesma de adultos, mas o juiz da Vara da Criança e Adolescente vai levar em conta os dados do caso concreto”, explica Fernandes.

Nesse caso, as medidas socioeducativas previstas pelo ECA que envolvem desde a advertência, reparação de dano, serviço para a comunidade, chega também à liberdade assistida, a semiliberdade e internação.

“Aí, quando a gente fala em internação, seria meio que um paralelo a essa ideia de reclusão, né? E sim, então, portanto você vê que a lei foi bastante rígida nesse sentido”, reflete o dirigente do IP.rec.

Ele de certa forma lamenta. “Se você dá uma olhada sobre quem capitaneou a lei no Congresso, como a senadora Damares Alves (Republicanos/DF), se vê aí uma vertente mais punitivista. Acho que é uma crítica que pode ser feita”, conclui Fernandes.

 O endurecimento, no entanto tem uma lógica. Para especialistas no tema, o cyberbullying é mais danoso do que o bullying presencial.

Concretamente, não é possível que a vítima se distancie fisicamente da intimidação que se torna mais constante no ambiente virtual.

 

Unesco

Enquanto a regulamentação do uso das ferramentas de IA ainda é discutida por governos em vários países e regiões do mundo, a Unesco se antecipou e publicou em setembro de 2023 a primeira Orientação Global sobre IA Gerativa na Educação e Pesquisa, documento disponível apenas em inglês.

A Unesco orienta um limite de idade de 13 anos para o uso de ferramentas de IA em sala de aula e demanda para que os governos invistam na formação de professores para o uso da tecnologia.

Apesar das vantagens e oportunidades destacadas nas suas recomendações, a agência da ONU salienta diversas preocupações.

Uma dela é o despreparo dos sistemas educacionais. A Unesco entende que o setor não está capacitado adequadamente para a integração ética e pedagógica das ferramentas de IA em rápida evolução.

Em grande parte, isso se dá pela ausência de regulamentações nacionais, na avaliação da entidade.

Em junho de 2023, a Unesco alertou que o uso de IA generativa nas escolas estava entrando em um ritmo muito rápido e sem debate público, verificações ou regulamentações.

Uma publicação recente, registrou a agência, denunciou que o lançamento de um novo livro didático requer mais autorizações do que o uso de ferramentas de IA generativa em sala de aula.

Segundo Gabriela Buarque, coordenadora no Grupo de Trabalho de Inteligência Artificial e Novas Tecnologias no Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin), a publicação é até agora o principal instrumento que versa sobre a temática.

“Na verdade, por ser um assunto muito novo, as autoridades, tanto no Brasil como nos outros países, ainda estão investigando como usar adequadamente a ferramenta, solucionar problemas, ou, pelo menos, mitigar os riscos.

Gabriela que é advogada, pesquisadora e Secretária-Geral da Comissão de Inovação, Tecnologia e Proteção de Dados da OAB de Alagoas, lembra que já existem respostas jurídicas para casos como a proliferação de deepfakes pornográficas nas instituições de ensino do Brasil.

 

O que diz a legislação brasileira até agora

Código Penal

Artigo 146 – Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais: Pena – multa, se a conduta não constituir crime mais grave.

Intimidação sistemática virtual (cyberbullying)

Parágrafo único. Se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social, de aplicativos, de jogos on-line ou por qualquer outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em tempo real: Pena – reclusão, de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos, e multa, se a conduta não constituir crime mais grave.

Artigo 216-B – Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.

Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 241-C – Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica, por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.

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Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 25 de março de 2024
www.extraclasse.org.br
Notícias

Policiais Militares realizam palestra sobre bullying em escola de Fortaleza/CE

Policiais militares do projeto piloto “Educação Mais Segura”, da 2ª Cia do 17º Batalhão Policial Militar, realizaram na tarde de ontem, 29, palestras aos alunos da EEFM Dona Júlia Alves Pessoa, localizada no bairro Bom Jardim.

Na ocasião, os militares conversaram com os alunos sobre a temática do bullying e algumas outras práticas de preconceito que comumente acontecem nos ambientes escolares.

A realização do projeto se dá por meio de dinâmicas, debates, construção de textos e palestras sobre temas muito presentes em nossa sociedade.

O objetivo dessas ações da PMCE nas escolas é o de agir preventivamente e formar cidadãos melhores.

Para o Sd PM Nóbrega, um dos precursores do projeto daquela unidade militar, “essas ações preventivas que vêm sendo realizadas juntos aos adolescentes são de suma importância, pois, além de gerar uma aproximação dos jovens com a Polícia Militar, permitem que os alunos se conscientizem sobre a importância de se respeitar as normas de condutas decorrentes do nosso Estado Democrático de Direito”.

Assessoria de Comunicação da PMCE

Polícia

Vítima de cyberbullying escreveu um livro

“Ser boa pessoa não foi o suficiente” para o escritor Sérgio Carvalho, que escreveu o livro “Tu foste um intervalo na solidão”, autobiográfico, que relata o percurso de uma relação de namoro que durou 496 dias, perturbada por episódios de cyberbullying.

O autor esteve na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha no passado dia 24 para apresentar o livro. Por falta de audiência não chegou a fazer a apresentação, mas deu entrevista ao JORNAL DAS CALDAS.
Com 41 anos, natural da Marinha Grande, é formado em Artes Plásticas pela ESAD.CR e desenvolve atividades profissionais no ramo das artes visuais e do ensino. Escreveu sobre uma relação que viveu há cerca de quatro anos com uma mulher dez anos mais nova que ele, em Aveiro, quando estava a fazer o mestrado em Ensino de Artes Visuais.

“Ela era da geração de jovens que não estudam nem trabalham, chamada de “nem nem” e conhecemo-nos num evento cultural onde no início tudo era cor de rosa”, contou, Sérgio Carvalho, até se aperceber da sua insegurança em relação às suas relações sociais com outras pessoas. “Ela tinha ciúmes do meu relacionamento com familiares, amigos, colegas de trabalho”, relatou o autor, acrescentando que a companheira começou a fazer “uma vigilância apertada sobre os contatos sociais que tinha”.

“Ela começou a vigiar o meu telemóvel, e-mail, redes sociais e fazia cenas de ciúmes à medida que me cruzava com pessoas que conhecia na rua”, adiantou, revelando que foi vítima de “violência psicológica através de tecnologias de informação e comunicação”. “Chegou uma altura em que já tinha medo de receber mensagens no facebook ou no e-mail porque queria que ela estivesse bem comigo”, explicou, referindo que “apesar do controlo gostava dela e pagava-lhe tudo”.

“Por amor nós somos doidos”, comentou, reconhecendo que ela nunca confiou nele. E, por isso, nunca foi capaz de se “entregar totalmente a ela”.
“Pelos ciúmes que ela manifestava, a minha forma natural de ser e de agir foi abafada, os meus passos eram vigiados e o meu círculo social desintegrou-se”, lembrou. Sentiu-se “um fantoche que, em nome de algum conforto emocional”, se deixou “contagiar, manipular e controlar por uma mulher que me amava”.

Chegou o dia em que disse “basta” e não suportou mais ser amado desta “maneira sufocante”. “Eu estava a viver uma ansiedade exaustante e disse-lhe que não a conseguia amar e ao mesmo tempo ter medo dela”, disse.

O autor, que escreveu o livro para alertar pais e filhos de que “a violência psicológica no namoro é tão grave como a violência física”, vincou que a namorada tinha a autoestima muito em baixo “não tinha amigas e não tinha a experiência de conhecer pessoas na rua. Vivia fechada no mundo da Internet e só tinha amizades virtuais”.

Com “Tu foste um intervalo na solidão” pretende ainda “sensibilizar o público para a importância do respeito pela liberdade do outro e confiança numa relação entre duas pessoas e testemunhar que o sentimento de paixão pode ofuscar os desequilíbrios numa relação tóxica”.

Sérgio Carvalho começou uma relação após vários anos de “isolamento” e esforçou-se, como nunca, para merecer “cada minuto, cada beijo, cada “amo-te”. “Éramos duas pessoas muito diferentes, nascidas com uma década de distância e um trajeto de vida com quase nada em comum”, contou.
O autor ainda não encontrou novo amor, mas garante que “aprendeu com a experiência” e que “ser boa pessoa não é o suficiente”.

Aida Reis, diretora da Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, convidou Sérgio Carvalho a voltar às Caldas para apresentar o seu livro a alunos do secundário, com o objetivo de sensibilizar para a violência no namoro.

AlunosFundamentalNotíciasVirtual

Partidos têm ideias para combater violência e bullying nas escolas

PCP propõe criação de gabinetes pedagógicos de integração escolar para promover um ambiente saudável e acompanhar alunos sinalizados. Os Verdes defendem mais psicólogos nas escolas e o CDS-PP recomenda ações de sensibilização sobre cyberbullying.

 

A indisciplina, a violência, o bullying, e a exclusão no interior das escolas são fenómenos que preocupam os partidos políticos. Há várias ideias em cima da mesa. O grupo parlamentar do PCP propõe a criação de gabinetes pedagógicos de integração escolar nos agrupamentos e escolas não agrupadas do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário que, entre outras tarefas, acompanhem alunos sinalizados e combatam o abandono e insucesso escolar. O CDS-PP e Os Verdes também estão atentos a essas realidades e avançam com várias recomendações para combater a violência nas escolas. O CDS-PP sugere um programa anual sobre cibersegurança e cibercrime e sessões de informação sobre utilização da Internet nas escolas. Os Verdes insistem na contratação de mais psicólogos para os estabelecimentos de ensino e defendem a elaboração de uma agenda que aborde e sensibilize alunos, professores, pessoal não docente, pais e encarregados de educação, para as questões que envolvem o cyberbullying.

“A resposta aos problemas da indisciplina, da violência, do insucesso e do abandono escolar deve ser necessariamente ampla e integrada, não podendo ser reduzida a nenhuma medida em particular”, sublinha o PCP no seu projeto de lei. O grupo parlamentar defende, deste modo, uma intervenção estruturada para promover “um efetivo combate aos fenómenos de indisciplina, violência, bullying ou exclusão no interior da escola”.

Os gabinetes pedagógicos de integração escolar, que o PCP defende, têm como principal objetivo “a promoção de um ambiente escolar saudável e estimulante que simultaneamente crie as condições para um efetivo acompanhamento na aplicação das medidas corretivas e que articule entre toda a comunidade escolar as respostas necessárias para a supressão de hábitos ou comportamentos desadequados ou prejudiciais ao ambiente escolar”. Gabinetes que devem ser constituídos por psicólogos, profissionais das ciências da educação, animadores socioculturais, assistentes sociais, professores, funcionários dos agrupamentos escolares, representantes das associações de estudantes.

Estas estruturas escolares teriam nas mãos o acompanhamento da execução de medidas corretivas, o acompanhamento social ou pedagógico do aluno a seu pedido ou por recomendação do diretor de turma, do conselho de turma, do diretor, ou do conselho pedagógico. E ainda a realização, promoção, apoio ou dinamização de iniciativas que combatam o abandono e insucesso escolares, a exclusão, a violência e a indisciplina, e promovam um ambiente de cidadania, participação e responsabilidade.

 

Bloquear sítios impróprios

O PCP considera que as medidas repressivas não devem ser a primeira abordagem para os problemas das escolas, mas sim uma “resposta de fim de linha que é tomada apenas de forma complementar após a intervenção pedagógica, social e política de prevenção de comportamentos desajustados ou violentos”. Os gabinetes que propõe trabalhariam no âmbito da autonomia das escolas e o Governo ficaria responsável pela atribuição de condições materiais, financeiras e humanas para um funcionamento regular.

Os Verdes querem mais psicólogos nas escolas e ações de sensibilização sobre cyberbullying dirigidas a toda a comunidade educativa. Num projeto de resolução, o partido ecologista sublinha que compete às escolas, e também aos serviços de saúde, sensibilizar crianças e jovens para os cuidados a ter e para a deteção preventiva de eventuais crimes no mundo da Internet. Até porque, sublinha, os professores “são agentes determinantes na deteção de problemas e na procura da sua solução” e as escolas “um espaço relevante” para prestar auxílio em situações de cyberbullying.

O CDS-PP, por seu turno, alerta, num projeto de resolução, para a urgência de “medidas de prevenção para o combate ao crime e à violência, particularmente o cyberbullying e o cibercrime”, nomeadamente nas escolas. Nesse sentido, os centristas propõem que o Parlamento recomende ao Governo o bloqueio do acesso a sítios na Internet e aplicações digitais considerados potencialmente perigosos ou impróprios para menores de idade. E, por outro lado, que desenvolva um programa anual para estudantes sobre cibersegurança e cibercrime e sessões de informação nas escolas sobre a utilização segura da Internet.

Para o CDS-PP, a cibercriminalidade, a violência e a criminalidade em contexto escolar são matérias relativamente novas, mas que estão a aumentar e, por isso, é necessário definir planos e ações concretas de sensibilização, formação e prevenção. Na sua perspetiva, a globalização virtual exige “cada vez mais e maiores cautelas”, medidas preventivas e “até repressivas”, e a segurança no uso da Internet deve ser uma das prioridades na abordagem com crianças e jovens.

font: http://www.educare.pt - Sara R. Oliveira
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Nudes: alunos estão enviando esse tipo de foto pela internet

Imagem: Shutterstock. Intervenções: Lucas Magalhães

Cutting, suicídio, Baleia Azul, bullying e cyberbullying. Essas expressões se tornaram comum no ambiente escolar, com estudantes passando por abusos sistemáticos de colegas. E com um celular no bolso, todo esse universo está a um clique de distância de se obter mais informações e de ser alvo ou ator de uma dessas ações. Por isso a série “13 Reasons Why” (“Os 13 Porquês” em português) repercutiu tanto (se você ainda não sabe sobre o que se trata, vale dar uma espiadinha na resenha que publicamos em NOVA ESCOLA sobre o tema).

No último sábado (27), a redação de NOVA ESCOLA e Gestão Escolar recebeu 30 educadores para discutir clima escolar a partir de algumas situações apresentadas pela produção da Netflix. A maior parte da conversa passou pelos comportamentos citados acima e tinha, em diversos casos, uma arma poderosa para se propagar: o celular. Como indica a pesquisa TIC Domicílios 2015, 70% dos indivíduos de 10 a 15 anos e 87% dos de 16 a 24 usam a internet no dispositivo móvel.

“Recentemente minha filha contou que a amiga mandou nude para um menino e a escola inteira recebeu a foto”, contou uma das participantes do evento que é estudante de Pedagogia. A menina era do 7º ano e o menino do 9º. “Era uma foto só da parte da frente, mas é uma situação que a menina está tendo que lidar e minha filha, por ser amiga dela, também. Estou sempre orientando, falando que tudo o que se coloca em mídia fica e perdemos o controle sobre ela. É uma situação complicada e que aparece com frequência nas escolas”, continua.

De acordo com Marcelo Clementino, vice-diretor da EE Carlos Maximiliano Pereira dos Santos e um dos convidados de NOVA ESCOLA para mediar as conversas, os nudes circulam desde as séries iniciais do Fundamental, mas se intensificam quando os estudantes ficam mais velhos. “Nossa instituição desenvolve um projeto de professores tutores que acompanham o aluno além da vida acadêmica, o que nos aproxima deles e abre um canal de diálogo. É cada coisa que contam para gente que nos deixam de cabelo em pé!”, relata.

Imagem: Shutterstock. Intervenções: Lucas Magalhães

Essas fotografias e vídeos nus enviados e instantaneamente dissipadas pelas redes sociais abalam a convivência e saúde mental das vítimas do cyberbullying. Alvo de rótulos e comentários maldosos, a consequência pode se manifestar com a vergonha de ir à escola, baixo rendimento em aula e até a vontade de abandonar os estudos. “O celular maximiza a comunicação. Se entro em contato com uma situação, mas não tenho um celular na mão, tenho todo um período até encontrar as pessoas e tomar uma atitude”, diz Gustavo Estanislau, especialista em Psiquiatria da Infância e da Adolescência e integrante do grupo Cuca Legal, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que promove o tema saúde mental nas escolas. “Esse período me ajudaria a trabalhar essa questão de uma forma bem mais racional”, completa.

Os relatos dos educadores mostram que em diversas situações os responsáveis pelo vazamento das fotos não é o receptor do nude. “Às vezes, a culpa fica apenas entre quem mandou e quem recebeu, mas muitas vezes o problema está ao redor. Já aconteceu caso de um celular ser furtado e vazarem fotos. Tanto o menino quanto a menina saíram da escola”, compartilha uma das professoras presentes. “Eles próprios também emprestam o celular e são sabotados pelos colegas. Os nudes são frequentes. Eles chegam para mim e mostram. A relação de comunicação entre eles é muito complicada, porque eles praticam muitas vezes o bullying sem saber que é por esse meio”, complementa o vice-diretor Marcelo.

LEIA MAIS: Como lidar com o cyberbullying na escola?

Para lidar com um nude ou outra agressão virtual, os procedimentos são os mesmos do bullying tradicional. “Temos que conversar com quem foi agredido e com o agressor, mas são conversas individuais. Sempre será necessário fazer um trabalho com os que são espectadores também porque eles também estão envolvidos”, explica Luciene Tognetta, professora de psicologia escolar da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem).

De acordo com a especialista, a situação pede um protocolo de atuação. Por isso, é importante que a conversa seja feita pelo orientador educacional ou que os professores recebam uma formação para saber como introduzir o diálogo em cada caso, levar o autor a reparar o dano causado e lidar com os espectadores. “Ele tem que estar bem preparado, com linguagem e abordagem que não seja de exposição”, aponta Luciene. Marcelo concorda: “Temos que estudar e se preparar para conseguir buscar soluções e dar feedback para as famílias de como ajudar esses adolescentes”. Após a conversa, os alunos envolvidos nos casos de cyberbullying precisam ser responsabilizados. “Quem ajuda a pensar a responsabilização é o próprio agressor. Não deve ser uma punição, mas pensar como é que ele vai reparar o dano causado para vítima”, indica a professora da Unesp.

VEJA TAMBÉM: Alunos como mediadores de conflitos na escola

Quando o caso acontece com um adolescente e a escola tem conhecimento do caso, o ideal é sugerir ao aluno que os responsáveis sejam informados. No entanto, para não quebrar o elo de confiança criado, é preciso respeitar a decisão do adolescente. “No caso das crianças, devem ser convocados porque os pais precisam saber. Não se trata apenas de uma relação de confiança, mas de obediência”, esclarece Luciene.

Mas a escola não pode trabalhar apenas quando os casos vêm à tona. O trabalho preventivo deve ser feito durante todo o ano letivo. “A superação da condição da agressão física ou virtual só se dá com a mudança na verdade do clima da escola e mudá-lo é dar aos estudantes a possibilidade de serem protagonistas das suas ações, discutir os problemas que têm e fazê-los com que se sintam respeitados”, explica a especialista em psicologia escolar.

Baixe aqui o pôster do evento com 13 dicas para construir uma escola acolhedora!

 

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