Vítima de cyberbullying escreveu um livro
“Ser boa pessoa não foi o suficiente” para o escritor Sérgio Carvalho, que escreveu o livro “Tu foste um intervalo na solidão”, autobiográfico, que relata o percurso de uma relação de namoro que durou 496 dias, perturbada por episódios de cyberbullying.
O autor esteve na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha no passado dia 24 para apresentar o livro. Por falta de audiência não chegou a fazer a apresentação, mas deu entrevista ao JORNAL DAS CALDAS.
Com 41 anos, natural da Marinha Grande, é formado em Artes Plásticas pela ESAD.CR e desenvolve atividades profissionais no ramo das artes visuais e do ensino. Escreveu sobre uma relação que viveu há cerca de quatro anos com uma mulher dez anos mais nova que ele, em Aveiro, quando estava a fazer o mestrado em Ensino de Artes Visuais.
“Ela era da geração de jovens que não estudam nem trabalham, chamada de “nem nem” e conhecemo-nos num evento cultural onde no início tudo era cor de rosa”, contou, Sérgio Carvalho, até se aperceber da sua insegurança em relação às suas relações sociais com outras pessoas. “Ela tinha ciúmes do meu relacionamento com familiares, amigos, colegas de trabalho”, relatou o autor, acrescentando que a companheira começou a fazer “uma vigilância apertada sobre os contatos sociais que tinha”.
“Ela começou a vigiar o meu telemóvel, e-mail, redes sociais e fazia cenas de ciúmes à medida que me cruzava com pessoas que conhecia na rua”, adiantou, revelando que foi vítima de “violência psicológica através de tecnologias de informação e comunicação”. “Chegou uma altura em que já tinha medo de receber mensagens no facebook ou no e-mail porque queria que ela estivesse bem comigo”, explicou, referindo que “apesar do controlo gostava dela e pagava-lhe tudo”.
“Por amor nós somos doidos”, comentou, reconhecendo que ela nunca confiou nele. E, por isso, nunca foi capaz de se “entregar totalmente a ela”.
“Pelos ciúmes que ela manifestava, a minha forma natural de ser e de agir foi abafada, os meus passos eram vigiados e o meu círculo social desintegrou-se”, lembrou. Sentiu-se “um fantoche que, em nome de algum conforto emocional”, se deixou “contagiar, manipular e controlar por uma mulher que me amava”.
Chegou o dia em que disse “basta” e não suportou mais ser amado desta “maneira sufocante”. “Eu estava a viver uma ansiedade exaustante e disse-lhe que não a conseguia amar e ao mesmo tempo ter medo dela”, disse.
O autor, que escreveu o livro para alertar pais e filhos de que “a violência psicológica no namoro é tão grave como a violência física”, vincou que a namorada tinha a autoestima muito em baixo “não tinha amigas e não tinha a experiência de conhecer pessoas na rua. Vivia fechada no mundo da Internet e só tinha amizades virtuais”.
Com “Tu foste um intervalo na solidão” pretende ainda “sensibilizar o público para a importância do respeito pela liberdade do outro e confiança numa relação entre duas pessoas e testemunhar que o sentimento de paixão pode ofuscar os desequilíbrios numa relação tóxica”.
Sérgio Carvalho começou uma relação após vários anos de “isolamento” e esforçou-se, como nunca, para merecer “cada minuto, cada beijo, cada “amo-te”. “Éramos duas pessoas muito diferentes, nascidas com uma década de distância e um trajeto de vida com quase nada em comum”, contou.
O autor ainda não encontrou novo amor, mas garante que “aprendeu com a experiência” e que “ser boa pessoa não é o suficiente”.
Aida Reis, diretora da Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, convidou Sérgio Carvalho a voltar às Caldas para apresentar o seu livro a alunos do secundário, com o objetivo de sensibilizar para a violência no namoro.