quarta-feira, abril 24, 2024

Notícias

Prefeitura da Capital cria grupo de combate ao Bullying e Cyberbullying em escolas

A Secretaria de Educação de Florianópolis instituiu um Grupo de Trabalho (GT) de Combate ao Bullying e Cyberbullying na rede municipal de ensino. Composto por diversos setores da sociedade, o grupo irá estudar, discutir e elaborar uma política municipal de enfrentamento e prevenção dessas violências.

Uma reunião foi realizada ontem, 27, na sede da Secretaria de Educação, com representantes do Ministério Público de Santa Catarina, Conselhos Tutelares, Polícia Civil, Conselho Municipal de Educação, Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes e do Programa Saúde do Escolar.

Por parte da SME, estiveram presentes membros da Diretoria de Educação Fundamental, Diretoria de Educação Infantil, Gerência de Educação Especial, Núcleo de Atenção Psicossocial da Educação e diretores de unidades educativas.

Bullying é a violência física ou psicológica reiterada, praticada por uma pessoa ou por várias, com a intenção de intimidar, agredir ou humilhar a vítima, causando dores, sofrimento, desequilibro, angustia, entre outros danos. É uma das formas de violência que mais cresce no mundo e pode acontecer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho.

O Cyberbullying ultrapassa qualquer fronteira física, tirando da vítima qualquer possibilidade de escapar dos ataques, que acontecem o tempo todo por meio, principalmente, das redes sociais e dos aplicativos de mensagens.

O Grupo de Trabalho orientará decisões e ações políticas da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, das unidades educativas e instituições parceiras. Caberá ao GT também atuar diretamente na formação de docentes e equipes pedagógicas, construindo campanhas de educação, conscientização e informação e instituindo práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores.

Elaborará diagnóstico sobre os episódios de bullying e cyberbullying em unidades educativas, de modo a mapear demandas e necessidades nas comunidades escolares e alternativas para o enfrentamento do fenômeno.

A Secretaria de Educação convidará outros setores da sociedade para compor o Grupo de Trabalho.

*As informações são da Prefeitura Municipal de Florianópolis

BullyingEscolasPrefeitura

Bullying na escola: “grande parte desses indivíduos são indivíduos autistas”

Durante o Março Laranja, momento em que a conscientização contra o bullying nas escolas já ganha novo enfoque, prestar atenção às crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) é ainda mais necessário.Segundo o pesquisador de Autismo e Inclusão Lucelmo Lacerda, a dificuldade de estabelecer conexões e interações sociais, além do preconceito que muitos ainda têm com o autismo, cria situações de extrema vulnerabilidade para pessoas no espectro.

Por isso, ele alerta para a necessidade de cuidados redobrados na criação e na educação de crianças autistas.Lacerda é doutor em Educação, autista e pai de autista. Em entrevista para a Gazeta, ele esclareceu qual o papel de pais, professores e colegas na identificação e na prevenção do bullying, e como lidar com essas situações.

Confira:

Como o mês de março, dedicado à conscientização contra o bullying nas escolas, destaca a importância de prestar atenção às crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista)?
A literatura científica especializada classifica os estudantes com autismo como “vítimas perfeitas” do bullying, por vários motivos.Porque esses indivíduos têm dificuldades em termos de habilidades sociais, porque eles não têm sinais físicos que indicam essa condição, que é considerada uma deficiência. Então, quando você fala em bullying na escola, grande parte desses indivíduos são indivíduos autistas. Então há um interesse especial neste público quando o assunto é bullying.Em seu livro, você menciona a extrema vulnerabilidade das pessoas no espectro autista devido às dificuldades de conexões sociais. Quais são os principais desafios sociais enfrentados por elas?

As características do autismo implicam que haja um prejuízo muito expressivo na reciprocidade socioemocional. E na comunicação não verbal. Então, quando a gente fala, quando a gente conversa, quando a gente interage, não é só o que é dito que importa, mas como é dito dos vários sinais sociais que são emitidos ali. Como pessoas autistas podem ter dificuldades com esses sinais, isso pode ser muito complicado, porque uma fala, por exemplo, que é irônica, que é sarcástica, ela pode ser entendida literalmente. Alguns estudantes autistas têm dificuldade inclusive com a própria linguagem, então isso pode amplificar todos esses prejuízos. E aí, quando você não entende essa intencionalidade, você fica mais submetido às situações em que haja malícia nessa relação, e aí vira um alvo muito grande, principalmente na adolescência, de brincadeiras jocosas e de agressões.

Qual é o papel crucial de pais, professores e colegas na identificação e prevenção do bullying contra crianças autistas?
Se a gente não contar com o coletivo, a gente não vai conseguir superar o bullying, né? A gente precisa que quando um bullying comece a perpetrar esse tipo de violência, as outras pessoas imediatamente, os outros estudantes imediatamente se recusem a participar dele. É quando esses outros alunos se dispõem a participar dele, é que ele se amplifica. A gente precisa que eles recusem, mais do que isso, a gente precisa que eles denunciem. A gente precisa também que os professores que vejam, que os pais que vejam denunciem, que os pais dos outros alunos trabalhem com seus filhos em relação a isso. A gente precisa, claro, também de uma política da escola de recepção dessas denúncias, um canal claro. Todo estudante deve saber quando há bullying qual é o canal apropriado para ele denunciar. Os professores também. E saber identificar. Então, a escola tem que fazer um trabalho muito sério para que todos esses agentes saibam identificar o que é uma situação de bullying para poder fazer essa denúncia.

Sua crítica à política de Inclusão Total nas escolas brasileiras destaca a precariedade do ensino regular. Como essa abordagem afeta crianças e adolescentes neurodivergentes?
Essa questão afeta todos, especialmente aqueles com neurodivergentes. Por quê? Porque os estudantes com desenvolvimento típico, quando a escola falha, eles têm mais recursos para correr atrás dessas lacunas que a escola não conseguiu cumprir porque não está trabalhando baseado na melhor evidência científica disponível. Estudantes com deficiência, em grande parte das vezes, não têm esses mesmos recursos. Eles precisam muito mais do apoio da escola. A probabilidade de, por exemplo, eles não serem alfabetizados, serem vítimas de bullying, não conseguirem desenvolver uma série de outros conhecimentos, de habilidades importantes para sua vida, é muito grande. E, se você considerar que a escola é o principal serviço público oferecido para essas crianças, então, o nosso desafio é muito grande.

Na prática, como a lacuna de aprendizagem nas escolas brasileiras, especialmente nas públicas, prejudica o desenvolvimento de crianças com necessidades especiais?
Bom, temos que entender que a escola é o único serviço muito precoce a que eles têm acesso, porque é muito difícil ter isso na saúde. É o único serviço intensivo, de grande calibre de horário, porque as intervenções para esse público só funcionam em grande calibre de horário. Na saúde, normalmente, você vai conseguir 15 minutos, uma vez por semana, quando muito. E é o único serviço que, de fato, cria condições também de desenvolvimento de habilidades sociais, ou seja, e que é realmente universalizado. Tem no Brasil inteiro. Todo mundo tem acesso. Ou seja, ele é o serviço por excelência mais fundamental na vida dessas pessoas. Então, todos os aprendizados de habilidades sociais, de desenvolvimento acadêmico e de desenvolvimento propriamente dito, que esse indivíduo poderia ter, ou ele vai ter na escola, ele não vai ter. É muito difícil ele ter em outro contexto. Então, o que a escola produz é ausência. É uma lacuna em todos esses aspectos.

Pode explicar a diferença entre Inclusão Total e Educação Inclusiva? E como essas abordagens se refletem na realidade escolar?
Do ponto de vista da inclusão total, o estudante precisa estar matriculado na escola, então o professor vai dar uma aula padronizada, mas uma aula que sirva para todos. Mas uma aula padrão. Ele não pode olhar para as especificidades individuais dos estudantes. Então, ele precisa fazer uma aula que seja diversa o suficiente. Acontece que nós não temos na literatura científica, em nenhum lugar do mundo, em termos de política pública, nenhuma descrição, nenhum experimento, nenhum estudo científico que tenha uma aula única, padronizada, que sirva para todas as pessoas, de toda a diversidade da humanidade. Embora a ideia seja boa, ela não existe. Enquanto a educação inclusiva pressupõe que, quando umestudante com deficiência está matriculado na minha sala, eu tenho que olhar para a sua especificidade, para a sua individualidade. E aí, eu trabalhar com essa individualidade, faço um plano educacional individualizado para ele. E aí eu vou dar o apoio que ele precisar. Pode ser pouco, pode ser médio, pode ser muito. E no caso do Brasil, apesar de a legislação acolher uma versão de educação inclusiva, na prática escolar, em grande parte dos documentos, a versão é da inclusão total. Então, é isso que está hegemônico. A ideia de que você simplesmente matricula o indivíduo, coloca na escola. E aí você tem um respeito pela diversidade e as coisas vão acontecer. E aí isso produz, claro, uma lacuna gigantesca.

Você destaca a importância das Práticas Baseadas em Evidências. Como essa abordagem científica pode melhorar a educação para crianças com deficiências?
Vejam, nós temos duas possibilidades. Ou nós vamos trabalhar com coisas que já foram testadas e aprovadas, ou nós vamos trabalhar com aquilo que a gente ia imaginar. A gente cria, a gente inventa e a gente vai implementar. Então é claro que se eu estou falando principalmente de pessoas com deficiência, pessoas em condição de vulnerabilidade, eu não tenho o direito de errar. Eu não tenho o direito de fazê-la de cobaia e de ficar testando. Entende? Então ele tem o direito de exigir que eu estude o suficiente para chegar lá fazendo aquilo que tiver a melhor evidência. É como se você vai num médico e você imagina que o médico vai inventar. Eu tenho 10 cirurgias aqui que eu gostaria de testar, então eu vou testar todas em você. É claro que não faz sentido, eu tenho que pegar a melhor cirurgia que existe para aquele caso e usá-la. Porque é direito desse indivíduo ter acesso ao melhor e na educação da mesma forma.

Diante dos desafios apresentados, quais são as soluções que você propõe para garantir um ensino especializado e eficaz para cada aluno?
Acho que nós temos duas questões. A primeira é garantir uma formação que seja baseada nessas perspectivas científicas. Então isso precisa mudar. Nós podemos mais ter uma formação que é baseada numa autoajuda que diz que se você respeitar a diferença, está tudo resolvido. Isso não é verdade, isso é falso e isso não está levando a gente a lugar nenhum. Então a gente precisa mudar e ao invés de a gente ter essas palestras de autoajuda no nosso circuito como professores com formação continuada, formação de serviço, que isso seja treinamento para implementar práticas com evidência. A segunda coisa é que isto não resolverá todas as questões, considerando que você tem um problema estrutural. Você tem um problema de pessoas, você tem um problema de estrutura física, você tem um problema de salas superlotadas. Então tudo isso são questões importantes que precisam ser endereçadas para a gente conseguir implementar adequadamente essas práticas. Elas não podem ser implementadas em um ambiente hostil.

Em “Crítica à Pseudociência em Educação Especial”, você analisa diversas correntes na Educação Especial. Pode compartilhar algumas reflexões principais destacadas em sua obra?
Nessa obra o que eu faço é olhar para os documentos da educação especial no brasil e me perguntar esses documentos essas coisas que estão em vigor aqui no brasil elas seguem qual dessas linhas educação inclusiva inclusão total né e aí eles são partidários da inclusão total e mais do que isso quando a gente olha para o mundo o que que você vê o que você vê olhando para Europa né aí eu tenho um destaque no texto em relação a Finlândia como é que que acontece quando você olha para os estados unidos então é uma unanimidade que todos os lugares desenvolvidos trabalham com a perspectiva da educação inclusiva né então quando você compara o que se faz nos países que têm uma educação mais adequada e no brasil é chocante é absolutamente chocante né e quando. E percebe que no Brasil tudo aquilo que você faz, que se faz, já tem uma série de estudos científicos que já demonstraram que é totalmente ineficaz e ineficiente, é também uma questão chocante. Como é que você faz um monte de experimento? Você demonstra que o negócio não serve, não funciona, e aí a gente tem no Brasil país que tem na sua constituição um compromisso tão expressivo com os direitos humanos, você tem esse tipo de política, principalmente para esse público mais vulnerável, é realmente chocante.

Autismo

Menino de 12 anos autista sofre Bullying e ameaças em escola de Florianópolis

A mãe encontrou ameaças de morte contra o menino em um grupo de aplicativo de mensagens

A Polícia Civil de Santa Catarina informou que vai instaurar um procedimento para apurar o caso de bullying e ameaças contra uma criança autista, de 12 anos, em uma escola pública de Florianópolis. A investigação será feita pela Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso da Capital (DPCAMI).

Segundo a mãe, ela encontrou ameaças de morte contra o menino, que tem transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), em um grupo de aplicativo de mensagens. Ela ainda pede que o filho tenha um professor auxiliar e entrou com um pedido na Defensoria Pública. Segundo ela, o órgão respondeu que solicitou o profissional à prefeitura.

A administração municipal, por sua vez, disse em nota que o estudante possui um ótimo desenvolvimento cognitivo e que ele não precisa de adequações pedagógicas e de acessibilidade nas atividades.

De acordo com a mãe, a criança, que está na sexta série, não vai à escola há quase um mês devido aos casos de bullying e ameaças. Ela conta que, nos quatro primeiros anos, ele estudava em outra escola. Ele mudou de unidade escolar em 2023, após conseguir uma vaga no local.

— Ele tinha uma professora maravilhosa. Então não foi preciso professor auxiliar porque ela estava em tudo. E ela dizia: “na minha aula não tem bullying”. Ela é uma professora maravilhosa. A professora me disse: “olha, para o ano que vem eu acho que ele vai precisar de um professor auxiliar porque vão ser muitas matérias, vai ser aquele entra e sai — diz.

Entretanto, segundo a mãe, o bullying ocorre e o filho tem dificuldades com a situação. O menino se sai bem academicamente, mas enfrenta desafios na socialização.

Em uma situação que aconteceu em um aplicativo de mensagem, o menino chega a ser ameaçado por outros colegas da escola.

— Ele [filho] fez um monte de publicações, que ele gosta, no grupo e o cara diz assim para ele: “por que tu não te matas?”. Mandou ele se matar — conta a mãe.

Outras publicações nesse mesmo grupo trazem ameaças ao menino. Em uma delas, um colega dele diz “Se alguém sabe onde o [aluno] mora, dá para ameaçar”. Em outra, o mesmo colega vai além: “Bora matar o [aluno]? Traz coisas leves. Um pedaço de pau grande talvez”.

O filho também já foi agredido fisicamente por esse mesmo colega, diz a mãe. A situação começou após esse aluno debochar do menino em uma aula de educação física.

— Ele tem dificuldade de motricidade grossa. E ele não gosta que debocham dele, porque ele não entende — conta a mãe.

O filho, então, planejou uma forma de retaliação aos deboches.

— Ele [filho] não tem muita noção do medo, perigo, ele não tem essa noção. Na hora da saída, o [filho] botou cola no cabelo do menino na frente de todo mundo. Ninguém entendeu nada. Não sabiam que o garoto tinha incomodado ele na hora da educação física. Aí, os colegas ficaram muito indignados — diz.

Quando foi buscá-lo, a mãe foi avisada por duas colegas da sala que o filho dela era, então, agredido:

— Eu estava no carro esperando e aí saíram duas coleguinhas correndo e me dizem ‘a senhora é a mãe do [nome do menino]’. Eu digo que sim. ‘Tem um menino batendo nele’. Eu saí correndo. Quando eu chego, eles estavam os dois na secretaria.

Depois desse caso, a mãe fez um boletim de ocorrência. Foram dois no total. O outro relata as ameaças no aplicativo de mensagens.

O que diz a prefeitura

“De acordo com análises das professoras de Educação Especial que atuam no AEE (Atendimento Educacional Especializado) , da equipe pedagógica e da direção da unidade educativa, [aluno] é um estudante que realiza com autonomia atividades de autocuidado, como higiene e alimentação, locomove-se com independência pelo espaço escolar, e utiliza linguagem oral para comunicação.

É um estudante participativo, expressa suas opiniões acerca de diversos assuntos, é criativo, comunicativo e questionador. O estudante possui um ótimo desenvolvimento cognitivo em todas as disciplinas, não apresenta dificuldades na aquisição dos conhecimentos relativos aos conceitos que lhe são apresentados, assimilando-os muito bem e realizando as atividades que são propostas com êxito.

Os professores relatam que [aluno] não encontra barreiras na metodologia pedagógica utilizada e não precisa de adequações pedagógicas/acessibilidade nas atividades, pois consegue acompanhar o conteúdo que é proposto.

Assim sendo, não apresenta necessidade até o momento de Professor Auxiliar de Educação Especial”

 

…………………………

Com informações NSC.
AlunosAutismoBullyingEscolasNotíciasPsicológico

Bullying: escolas de Vitória recebem ação preventiva da Guarda Municipal

Guarda de Vitória faz ação preventiva contra bulling nas escolas

Além de atuar na segurança viária e urbana da cidade, a Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV) preza pela proximidade com as comunidades da capital capixaba. Foi assim que nasceram projetos como o Guarda Escolar, que voltou às salas de aula nesta segunda-feira (25).

Realizado em escolas da rede municipal, o Guarda Escolar trabalha ações preventivas ao bullying de forma lúdica e pedagógica com os alunos. A primeira escola a receber a equipe da Guarda Escolar foi a turminha do Centro Municipal de Ensino Infantil (Cmei) Terezinha Vasconcellos Salvador, no Romão.

“Levamos livros interativos feitos pela própria equipe da Guarda Escolar e apresentamos o Monstro das Cores que representam as emoções. O diálogo destrincha como identificar e lidar com essas emoções, fortalecendo o respeito entre os coleguinhas da escola”, detalha Annelise Alves, Coordenadora de Ensino, Formação e Relacionamento com a Comunidade da Guarda de Vitória.

 

Guarda de Vitória faz ação preventiva contra bulling nas escolas

Annelise explica também que o contato com os agentes da Guarda de Vitória cria um elo de confiança com os pequenos. “É uma troca com os agentes que também gera laços de confiança, gerando uma maior sensação de segurança”, completa.

O projeto Guarda Escolar realiza visitas às escolas e creches por meio de convite do corpo técnico pedagógico de cada unidade de ensino. As atividades são adaptadas de acordo com a faixa etária das turmas.

 

……………………

Por Glacieri Carraretto (gcpereira@vitoria.es.gov.br), com edição de Andreza Lopes
NotíciasPolícia

Cyberbullying na escola é caso de polícia e oportunidade pedagógica

Com a nova legislação, casos recentes de uso de IA para gerar pornografia com adolescentes podem a levar a medidas socioeducativas com restrição de liberdade

Cyberbullying na escola é caso de polícia e oportunidade pedagógica

Com o avanço das tecnologias de Inteligência Artificial (IA) instituições de ensino em todo o planeta buscam formas de lidar com os benefícios e ameaças da novidade da moda.

Se algumas já começam a usar a IA – mais especificamente o ChatGPT – em sala de aula e têm obtido lições valiosas para o melhor uso pedagógico da ferramenta, outras em situações como a recente disseminação de imagens forjadas para simular a nudez de pelo menos 16 alunas de um tradicional colégio de Porto Alegre, criam um clima de apreensão.

Assim como na capital gaúcha, casos expressivos já ocorreram no Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte são a versão digital do já conhecido bullying e classificado como cyberbullying. Ambos, desde 15 de janeiro deste ano, passaram a ser crimes na legislação brasileira. Trata-se da lei 14.811/2024 sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apresenta importantes alterações no âmbito criminal como a inclusão dos delitos de bullying e cyberbullying no Código Penal. (leia no final da matéria)

 

Escola e família contra o cyberbullying

Para a psicóloga, psicopedagoga e neuropsicóloga Luciana Garcia, além do bullying e o cyberbullying serem encarados como crime, “existe um papel muito importante, tanto da escola como da família”.

No mesmo sentido, Oswaldo Dalpiaz, presidente do Sindicado do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), ao falar sobre o ocorrido na última semana em Porto Alegre, é categórico: “O que nós vimos aí foi um fato demasiadamente desumano”, sentencia.

A presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), Sofia Cavedon (PT) vê o acontecimento por dois vetores, prevenção e criminal, e anuncia que no início de abril o colegiado deverá iniciar uma reflexão para fomentar políticas públicas que tratem o problema.

 

Educação sem limites

Pesquisadora do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Luciana entende que é fundamental que tanto a família quanto o ambiente escolar forneçam “uma educação e uma formação emocional e social para que as nossas crianças e adolescentes, desde lá da educação infantil, sejam formadas baseadas na autoconfiança, na promoção da autoestima, na empatia, na cooperação com os demais”, declara.

Para Dalpiaz, são os atos humanizadores que contribuirão para pelo menos mitigar o mau uso da tecnologia em casos como o da escola de Porto Alegre e de outros que têm proliferado em instituições de ensino mundo afora.

“Essas crianças, esses adolescentes (responsáveis pelas deepfakes pornográficas), têm acompanhamento educativo por parte dos pais? Se não tem, eles se sentem livres para fazer o que bem entendem. E a imaginação de um jovem, um adolescente dessa idade é ilimitada. Faz isso por maldade? Eu acho que não. Faz isso por curiosidade, por inovação, para se mostrar, para ser melhor, para apresentar-se melhor de todos. Mas termina nisso. Infelizmente, quem preparou tudo isso, cometeu um ato infracional muito sério. Porque mexeu com a integridade e com a saúde dessas meninas”, explica Dalpiaz.

 

Desligar o piloto automático

Já para a deputada Sofia, se o primeiro caminho a ser buscado é o da prevenção pela educação, com diretrizes respaldadas na legislação, o que chama de vetor criminal não pode ser desconsiderado.

É por isso que a parlamentar informa que, para a reunião que a Comissão de Educação está formatando, os órgãos de segurança do estado (Polícia Civil e Brigada Militar) serão chamadas para participar.

“Tem aí outra dimensão que é as escolas, as direções, os professores, saberem como agir, o que devem fazer, para quem pedir ajuda, denunciar. Afinal, como no caso recente de Porto Alegre que está em investigação, a gente está tratando com menores de idade, com criança, adolescente, que têm seus direitos”, informa Sofia.

Ela entende que “a meninada precisa saber que isso é crime, que tem previsão legal, que tem imputação de responsabilidade, que tem redes que os manipulam, redes que os insuflam”, pontua.

Na questão da prevenção, em paralelo, a necessidade do que a deputada denomina de “desligar o piloto automático dessa meninada”, com mais orientação.

“Eles fazem no oba-oba, no vamo-vamo, na mobilização de grupos. A gente tem que desligar esse piloto automático e fazer eles refletirem, saberem que estão incorrendo em crime, no caso de menores são atos infracionais. Eles e as famílias”, assevera.

 

O bullying e o cyberbullying como crimes

 A lei 14.811/2024 traz mudanças no âmbito criminal como a inclusão dos delitos de bullying e cyberbullying no Código Penal.

Em uma realidade que coloca o Brasil como o segundo país que registra o maior número de casos de bullying e cyberbullying , atrás apenas da Índia, conforme pesquisa do Instituto Ipsos, a nova legislação reforça a proteção a crianças e adolescentes.

Nos casos em que as condutas não constituam um delito mais grave, no mínimo uma multa é prevista.

Se o crime for cometido por meios virtuais, o cyberbullying, além de multa, o criminoso pode pegar de dois até quatro anos de prisão.

A nova regra também prevê agravantes se o bullying for cometido em grupo, se houver uso de armas ou se houver outros crimes violentos.

Os crimes que estão no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) passam a ser considerados hediondos, sem direito a fiança ou perdão da pena.

Estão também na mesma categoria o auxílio ou incentivo ao suicídio ou automutilação, usando a internet, tráfico de crianças e adolescentes e sequestro de pessoas menores de 18 anos.

Com a nova lei, sobe para até oito anos de prisão a pena para quem exibe ou facilita a exibição de pornografia infantil, como o que ocorreu na escola particular de Porto Alegre onde alunos usaram IA para montar vídeos falsos de colegas nuas.

No entanto, por se tratar de menores de idade que cometeram o ilícito, a situação que ainda está sob investigação é considerada ato infracional equiparado a crime.

Assim, adolescentes respondem por meio de medidas socioeducativas nas varas da Infância e Juventude. Já no caso de crianças, os responsáveis legais são processados.

No entanto, a punição pode endurecer quando tudo acontece no ambiente virtual, o cyberbullying.

Caso a intimidação ocorra por meio da Internet, nas redes sociais, aplicativos ou jogos, a pena segundo o advogado e diretor do Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife (IP.rec), André Lucas Fernandes, ela é “espelhada” no caso de adolescentes infratores.

 “Não necessariamente a penalização vai ser a mesma de adultos, mas o juiz da Vara da Criança e Adolescente vai levar em conta os dados do caso concreto”, explica Fernandes.

Nesse caso, as medidas socioeducativas previstas pelo ECA que envolvem desde a advertência, reparação de dano, serviço para a comunidade, chega também à liberdade assistida, a semiliberdade e internação.

“Aí, quando a gente fala em internação, seria meio que um paralelo a essa ideia de reclusão, né? E sim, então, portanto você vê que a lei foi bastante rígida nesse sentido”, reflete o dirigente do IP.rec.

Ele de certa forma lamenta. “Se você dá uma olhada sobre quem capitaneou a lei no Congresso, como a senadora Damares Alves (Republicanos/DF), se vê aí uma vertente mais punitivista. Acho que é uma crítica que pode ser feita”, conclui Fernandes.

 O endurecimento, no entanto tem uma lógica. Para especialistas no tema, o cyberbullying é mais danoso do que o bullying presencial.

Concretamente, não é possível que a vítima se distancie fisicamente da intimidação que se torna mais constante no ambiente virtual.

 

Unesco

Enquanto a regulamentação do uso das ferramentas de IA ainda é discutida por governos em vários países e regiões do mundo, a Unesco se antecipou e publicou em setembro de 2023 a primeira Orientação Global sobre IA Gerativa na Educação e Pesquisa, documento disponível apenas em inglês.

A Unesco orienta um limite de idade de 13 anos para o uso de ferramentas de IA em sala de aula e demanda para que os governos invistam na formação de professores para o uso da tecnologia.

Apesar das vantagens e oportunidades destacadas nas suas recomendações, a agência da ONU salienta diversas preocupações.

Uma dela é o despreparo dos sistemas educacionais. A Unesco entende que o setor não está capacitado adequadamente para a integração ética e pedagógica das ferramentas de IA em rápida evolução.

Em grande parte, isso se dá pela ausência de regulamentações nacionais, na avaliação da entidade.

Em junho de 2023, a Unesco alertou que o uso de IA generativa nas escolas estava entrando em um ritmo muito rápido e sem debate público, verificações ou regulamentações.

Uma publicação recente, registrou a agência, denunciou que o lançamento de um novo livro didático requer mais autorizações do que o uso de ferramentas de IA generativa em sala de aula.

Segundo Gabriela Buarque, coordenadora no Grupo de Trabalho de Inteligência Artificial e Novas Tecnologias no Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin), a publicação é até agora o principal instrumento que versa sobre a temática.

“Na verdade, por ser um assunto muito novo, as autoridades, tanto no Brasil como nos outros países, ainda estão investigando como usar adequadamente a ferramenta, solucionar problemas, ou, pelo menos, mitigar os riscos.

Gabriela que é advogada, pesquisadora e Secretária-Geral da Comissão de Inovação, Tecnologia e Proteção de Dados da OAB de Alagoas, lembra que já existem respostas jurídicas para casos como a proliferação de deepfakes pornográficas nas instituições de ensino do Brasil.

 

O que diz a legislação brasileira até agora

Código Penal

Artigo 146 – Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais: Pena – multa, se a conduta não constituir crime mais grave.

Intimidação sistemática virtual (cyberbullying)

Parágrafo único. Se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social, de aplicativos, de jogos on-line ou por qualquer outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em tempo real: Pena – reclusão, de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos, e multa, se a conduta não constituir crime mais grave.

Artigo 216-B – Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.

Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 241-C – Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica, por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.

……………………

Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 25 de março de 2024
www.extraclasse.org.br
Notícias

Número de monitores nas escolas municipais de Passo Fundo volta à discussão após fuga de criança autista

Segundo o município, hoje são 213 servidores para atender 1,1 mil estudantes com laudos de transtornos ou deficiências que necessitam de apoio

A notícia do desaparecimento de uma criança autista após sair da Escola Municipal de Ensino Fundamental Jardim América, localizada no bairro de mesmo nome, em Passo Fundo, na última quarta-feira (13), levantou a discussão sobre o número de monitores para alunos com transtornos ou deficiências nas escolas do município. 

Benjamin, seis anos, foi encontrado horas depois do desaparecimento a quatro quilômetros de distância da escola, mas deixou pais e professores em estado de alerta. Segundo o pai da criança, Sidnei Marcelo dos Santos, o portão que dá acesso ao ginásio de esportes onde estava a criança estava aberto, o que facilitou a saída dele do local. 

O pai conta que o menino trocou de escola recentemente, porque passou do ensino infantil para o fundamental, o que causou preocupação à família. Segundo ele, a nova instituição não tem monitor para acompanhá-lo nas atividades.

— Fizemos uma reunião com a direção da escola e, para ele não ficar sem aula, pois ainda não há uma previsão de monitor, a escola sugeriu que ele frequentasse as aulas e ficasse até o meio da tarde, até se acostumar. A gente confiou na escola— desabafa o pai. 

lei federal nº 3205/2021 determina que toda criança com diagnóstico de deficiência e que tenha dificuldades de locomoção, higiene, alimentação e segurança tem direito ao acompanhamento de um monitor individual. Conforme Santos, a família abriu um protocolo para solicitar o profissional ao menino na Secretaria Municipal de Educação (SME), mas até o momento não foi disponibilizado. 

Câmeras flagraram o momento em que outra estudante atravessava uma avenida movimentada, após fugir da escolaArquivo pessoal / Divulgação

A situação preocupa pois esse não é o único caso em que crianças saem da escola em momentos que estão sem supervisão. Também na quarta-feira, um caso semelhante aconteceu na Escola Municipal de Educação Infantil Rita Sirotsky, localizada na Avenida Aspirante Jenner. 

Apesar de ter monitor em sala de aula, a pequena Sofia, quatro anos, saiu da escola, atravessou a avenida — que costuma ter trânsito intenso de veículos — e foi até uma sorveteria que fica em frente. A menina estuda com a irmã gêmea, Betina, e as duas receberam o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA)

— Ela abriu dois portões, parou na faixa, um carro diminuiu a velocidade, e ela atravessou a avenida sem olhar para os lados. Foi para a sorveteria, onde conheciam ela, e (os proprietários) avisaram a escola, pois até então a direção não tinha dado falta. Mas e se ela não vai para a sorveteria? — questiona a mãe Francesca Iaricci, que só soube do ocorrido quando o pai foi buscar as meninas na saída da escola. 

Segundo o diretor da escola, Rudimar Gomes, a professora percebeu a saída da criança em menos de dois minutos e saiu para buscá-la. Dessa forma, rejeita que foi a sorveteria que informou sobre a saída da aluna. 

— Verificando as câmeras da escola, um minuto e 10 segundos após a saída a professora já nota a saída da criança. Nesse momento a professora deixa a turma e vai até a sorveteria. Nós não fomos informados pela sorveteria. A professora pega a criança e retorna para a escola. Todo esse tempo entre a saída e retorno com a professora se dá em quatro minutos. Nós somente avisamos o pai quando foi buscá-la, em razão da situação já ter sido resolvida— pontua o diretor. 

Segundo a mãe, Sofia ainda não tem a dimensão do que aconteceu e está bem, já a irmã Betina está abalada e repete diariamente que a irmã fugiu da escola.

Assunto está na Justiça

A falta de monitores nas escolas municipais de Passo Fundo já virou processo judicial. Após inúmeras denúncias de pais, o Ministério Público ajuizou uma ação civil pública contra a prefeitura em 10 de novembro de 2022. O processo corre em segredo de Justiça. 

Questionado por GZH, o MP informou em nota que o processo foi julgado procedente pelo Juizado Regional da Infância e Juventude de Passo Fundo em 11 de dezembro de 2023 e, no momento, está em grau de recurso. Segundo a Promotoria Regional da Educação (Preduc), o serviço pedagógico, educacional e de monitoria são de responsabilidade da prefeitura de Passo Fundo e cabe ao MP fiscalizar.

Uma das mães que busca insistentemente o apoio judicial para garantir a presença de monitor em sala de aula é a Maiara Karina Posse, mãe da Anna Karolina Posse Nicoletti Antunes, hoje com 13 anos. Desde cedo a filha tem diagnóstico de Síndrome de Stickler — uma doença rara que acomete a visão, a audição, anormalidades craniofaciais e musculoesqueléticas. Mais tarde, também veio o diagnóstico de TEA. Por isso, a mãe busca ajuda junto ao MP há pelo menos nove anos.

No ano passado, a família teve uma sentença judicial favorável e, só por isso, hoje a adolescente tem direito ao acompanhamento exclusivo com monitor. O que nem sempre acontece, segundo Karina.

Karina precisou entrar na Justiça para garantir acompanhamento para a filha
Maiara Karina Posse / Arquivo Pessoal

— Como tem muitos alunos com transtornos que precisam de acompanhamento, muitas vezes o monitor se divide.  Sem contar que a carga horária desse profissional não atende à mesma carga horária da Anna — ele faz 15 horas semanais e ela 20 — então não foram raras as vezes que a minha filha precisou entrar mais tarde e sair mais cedo da escola, antes da decisão judicial. Sem contar as vezes que o monitor não está na escola, aí o professor precisa se dividir entre 27 alunos e mais dois ou três estudantes com laudo, que também precisariam desse apoio individual e não têm — pontuou a mãe.

Por isso, a luta da Karina não terminou com a vitória judicial da filha. Ela faz parte de um grupo de mães que busca ajuda para conseguir que os filhos frequentem a escola com acompanhamento. Mas, segundo ela, há uma omissão geral da sociedade nesse assunto.

— Quando o município fala que cumpre a lei, ele cumpre a lei que trata dos monitores e não da inclusão da pessoa com deficiência. É por isso que as famílias estão pedindo socorro. É um desgaste emocional muito grande, mas nós não vamos desistir. Eu só quero que os nossos filhos tenham o direito de aprender como todos os outros. Todos dizem que estão fazendo tudo o que podem, mas esse “tudo o que podem” ainda é muito pouco — pontuou Karina.

Professores também cobram

O Centro Municipal de Professores (CMP Sindicato), que representa o magistério municipal, afirma que a falta de monitores para auxiliar no acompanhamento de alunos incluídos é um problema crônico na cidade. No ano passado, a entidade fez uma denúncia no MP, que foi anexada ao processo já existente. No caso da Emef Jardim América, segundo o CMP, são mais de 200 alunos, quase 10% com laudo e nenhum monitor para acompanhamento. 

— Essa não é uma realidade somente dessa escola. O sindicato tem apurado o déficit de monitores em várias escolas do município, que atendem um número crescente de alunos incluídos, sem o suporte necessário — diz uma nota publicada em 13 de março.

Segundo o diretor do CMP Sindicato, Tiago Machado, o cenário atual é um pouco melhor do que o enfrentado em 2022, quando a entidade ingressou com a ação no Ministério Público, mas ainda não é o suficiente:

— Estamos falando de uma rede de mais de 17 mil alunos, sendo mil com laudo (de algum transtorno). Nesse ano, começamos com um número de monitores que dão conta de parte da situação, mas ainda fica aquém. 

O sindicato também questiona a preparação dos profissionais. É o que alerta a diretora jurídica do CMP, Débora de Araújo Soares:

— A maioria dos que chegam às escolas são pessoas que terminaram o ensino médio, sem experiência ou a qualificação necessária. Como o salário não é atraente, vemos um rodízio muito grande desses profissionais. 

Além disso, sem a figura do monitor, a função principal do professor em sala de aula acaba comprometida.

— O professor existe para transmitir o conhecimento de uma forma metodológica. Quando o aluno demanda atenções especiais, como higiene, segurança, locomoção e alimentação, se não tiver a figura do monitor, é o professor acaba tendo que fazer isso. Então, acaba se ocupando de uma função que não é sua. Se você coloca isso em um ambiente com 20 a 25 alunos, a parte pedagógica, que é a função principal do professor existir, fica completamente comprometida — pontua Machado. 

Questionada sobre a demanda de monitores para atender esse público, a Associação Amigos dos Autistas (Auma) de Passo Fundo afirmou que acompanha os casos conforme é procurada por pais. 

— Estamos sempre acompanhando, conversamos com a SME e Seduc quando necessário. Sabemos que muitos monitores do ano passado estão com seus contratos vencendo e que a prefeitura já trabalha na capacitação dos profissionais. A gente busca fazer essa ponte junto às secretarias do Estado ou do município para ver qual é a situação e previsão para que os monitores iniciem junto as crianças — afirma o presidente Emerson Drebes.

O que diz a prefeitura de Passo Fundo

Segundo o secretário de Educação, Adriano Canabarro Teixeira, atualmente o município tem 213 monitores trabalhando para um universo de 1.187 crianças com laudo incluídas nas escolas. O número, de acordo com Teixeira, ainda é abaixo do ideal, mas ele ressalta que já houve avanço.

— Foi contratada uma empresa terceirizada que realizou a contratação de 100 novos monitores no ano passado. O município ainda tem capacidade de contratação de monitores, mas o grande problema é a falta de interesse na função. Também foram oferecidas outras 347 vagas através de estágio de licenciatura, mas apenas 113 foram preenchidas — esclareceu o secretário.

 Em breve o município deve abrir um novo processo seletivo emergencial para monitores e fazer visitas às turmas de licenciatura nas instituições de ensino superior em busca de interessados. 

— Dizem que o salário é baixo, mas essas vagas de estágio para 30 horas semanais o valor é de R$ 1.164, ou seja, é compatível com a função. Porém, como até os cursos de licenciatura estão com baixa procura, acaba se refletindo no baixo interesse por estágios nessas áreas. Sabemos que ainda estamos longe do ideal, mas há que se reconhecer que houve uma melhora no assunto.

Segundo o procurador-geral do município, Adolfo de Freitas, a lei permite um mesmo monitor atenda até três crianças por turno, o que significa que um mesmo profissional pode atender até seis alunos por dia. 

— Não temos crianças que não são atendidas, sem monitoria; elas são mudadas de sala de aula, nós deslocamos os monitores. Certamente aquelas crianças que têm diagnóstico, que necessitam de monitores, são monitoradas. O que acontece muitas vezes é que os pais gostariam que essas crianças tivessem monitores, mas às vezes o monitor, em vez de fazer a inclusão, ele acaba fazendo a exclusão, porque a criança fica vinculada ao monitor, que é um adulto, e deixa de interagir com seus colegas de aula, que são crianças — pontuou Freitas. 

Segundo o secretário de educação, o que é levado em consideração pelo município é uma resolução do Conselho Estadual de Educação, que dá a entender que um mesmo monitor pode atender até três crianças

Sobre o caso ocorrido na Emef Jardim América, o procurador afirmou que o menino é atendido pela rede há pelo menos três anos e está em período de adaptação na escola.

— O menino já tinha vínculos com aquela professora (da escola anterior), já tinha três anos de rede pública municipal, sempre foi atendido. Acontece que saiu da série infantil e foi para as séries iniciais, então teve que mudar de escola. Quando mudou, estava num momento de transição e sob avaliação desta professora — reiterou Freitas. 

No caso em específico, a prefeitura informou que o estudante começou a ser atendido três dias por semana e frequentava a escola até as 15h. Segundo o município, uma professora de atendimento educacional especializado acompanhava o aluno e dois familiares estavam na escola no momento do desaparecimento. 

Ainda, a prefeitura disse que a orientação repassada para todas as escolas é manter as portas e portões trancados e que abriu um procedimento interno nas duas escolas para averiguar as circunstâncias das fugas.

AutismoPolícia